LEGISLAÇÃO

terça-feira, 14 de maio de 2013

Movimento importador




Movimento importador

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Os resultados desanimadores do primeiro trimestre comprovam que o setor siderúrgico continua enfrentando as dificuldades que marcaram seu desempenho no ano passado, decorrentes de um mercado deprimido e da competição dos importados. A conjuntura da indústria será debatida hoje e amanhã, no Rio, durante o Congresso Brasileiro do Aço, que chega a sua 24ª edição.
Entre janeiro e março, a produção brasileira de aço bruto caiu 4,3% em relação ao primeiro trimestre do ano passado, atingindo 8,3 milhões de toneladas. No acumulado em 12 meses, a queda foi de 7,6%, indicando que a retração vem se acentuando. No ano passado, o setor produziu 34,68 milhões de toneladas, volume 2,6% abaixo do fabricado em 2011.
Vendas menores para o mercado doméstico e falta de competitividade, tanto para exportar como para concorrer no país com importados, levaram os fabricantes a puxar o freio e operar com capacidade média de cerca de 68% neste ano, segundo o Instituto Aço Brasil. Em 2012, a utilização média da capacidade instalada foi de 71,7%. Segundo Marco Polo de Mello Lopes, presidente executivo do instituto, “sobraram”, em aço bruto equivalente, 20 milhões de toneladas no ano passado e vão sobrar 19,8 milhões de toneladas neste ano.
A falta de competitividade, segundo Lopes, deve-se a dois grupos de problemas: a criseeconômica na Europa e EUA, que encolheu o mercado internacional, resultando em estoques que devem chegar a 587 milhões de toneladas neste ano, e ao que define como questões “sistêmicas”. Carga tributária elevada, câmbio considerado defasado, infraestrutura deficiente, preços altos de gás e energia elétrica causam, segundo Lopes, “assimetrias competitivas”, que impedem o setor de competir com as importações.
Segundo estudo do Aço Brasil, se considerados somente os custos de produção, a indústria brasileira de aço é razoavelmente competitiva em relação a EUA, China, Rússia, Alemanha e Turquia, ficando em primeiro lugar no segmento de bobinas a quente e em terceiro na área de vergalhões. Quando se adicionam os impostos, o aço brasileiro torna-se o menos competitivo. “A siderurgia, assim como a indústria brasileira em geral, está vivendo um momento muito difícil. Os fatores de queda ainda estão aí e ela pode continuar”, diz Lopes.
O fraco crescimento do PIB em 2012, a redução do nível de investimento e o aumento doImposto de Importação frearam as importações de aço, que atingiram 843 mil toneladas entre janeiro e março, com redução de 15,4% em relação ao mesmo período de 2012, conforme o Aço Brasil. Mas as chamadas importações indiretas, de aço contido em produtos importados, como máquinas e equipamentos, carros, autopeças e eletrodomésticos, continuam afetando o setor.
Segundo o Instituto Nacional dos Distribuidores de Aço (Inda), as importações indiretas somaram 1,3 milhão de toneladas no primeiro trimestre – 16,6% a mais do que em igual período de 2012. No ano passado, atingiram 4,767 milhões de toneladas e a projeção para este ano, se mantido o ritmo do trimestre, é de 5,529 milhões de toneladas. “As empresas que usam aço no Brasil estão perdendo espaço para as que usam aço lá fora. É adesindustrialização”, diz Carlos Loureiro, presidente do Inda. Entre 2007 e 2012, segundo a entidade, as importações indiretas aumentaram 103%.
Os distribuidores, que haviam projetado aumento de 6% em suas vendas para 2013, se viram frustrados com a queda de 3,4% registrada no primeiro trimestre. Em 2012 as vendas do segmento aumentaram 1,5%. O Inda não ainda cortou a projeção para o ano. “Se a economiacrescer de 3% a 3,5%, o consumo deverá aumentar pelo menos 4,5% a 5%”, diz Loureiro. O consumo aparente de produtos siderúrgicos no primeiro trimestre, segundo o Aço Brasil, totalizou 6,2 milhões de toneladas, queda de 1,7%, em relação a igual período de 2012.
Para as siderúrgicas, o consumo interno precisa ser estimulado. Conforme dados do Aço Brasil, enquanto o consumo per capita de aço na China evoluiu de 34 quilos, em 1980, para 459,8 quilos, em 2011, no Brasil ele passou de 100,6 quilos por habitante para apenas 130,1 quilos no período. É preciso também eliminar as chamadas assimetrias competitivas. Enquanto questões como câmbio e carga tributária não são resolvidas, o presidente do Aço Brasil propõe a “defesa comercial” do setor, ou seja, impostos de importação maiores. O governo já concedeu, em setembro, alta desse tributo para vários produtos, como laminados a quente e chapas grossas, elevando as alíquotas, de 12% a 16%, para 25%. Segundo Lopes, nova lista de produtos já foi apresentada e está sendo analisada pelo governo.
Já as empresas começam a se movimentar com estratégias alternativas para enfrentar osimportados. A ArcelorMittal Aços Longos, especializada em laminados para a construção civil, fio-máquina para a indústria e trefilados (arames, pregos e parafusos), aposta no atendimento “personalizado”, com produtos cortados e dobrados conforme as especificações do cliente e entregues onde e quando ele determinar.
“Nossa ideia é estar o mais próximo possível dos clientes, com estoque totalmente adequado a eles”, diz Augusto Espeschit de Almeida, CEO da ArcelorMittal Aços Longos. Ele define essa estratégia como uma das “barreiras naturais”, que colocam a empresa à frente do produto importado. Usinas enxutas, controle e otimização de custos e qualidade do produto completam o leque de ações para manter as margens projetadas. Em 2012, suas vendas cresceram 0,5%, para 3,48 milhões de toneladas de aço bruto, enquanto o Ebitda (lucro antes de juros,impostos, depreciação e amortização) aumentou 3,5%, atingindo R$ 1,37 bilhão. Suas sete usinas no país, segundo Almeida, operam com 90% da capacidade instalada, de 3,9 milhões de toneladas anuais de aço bruto. A expectativa para 2013 é manter o volume produzido em 2012, com demanda maior por parte dos segmentos industriais em que atua, como o automotivo.
Fortalecer o relacionamento com os clientes também está nas metas da Usiminas. Além de renovar o portfólio de produtos, a empresa criou, em 2012, o setor de “supply chain”, responsável por acompanhar de forma minuciosa o processo de atendimento ao cliente, do pedido à entrega. “Em que pese o cenário de volatilidade do mercado, esperamos aprofundar o relacionamento com nossos clientes e elevar o volume de vendas no mercado interno em cerca de 5% neste ano”, diz Sergio Leite, vice-presidente comercial da Usiminas. Em 2012, as vendas da empresa aumentaram 16%, atingindo 6,9 milhões de toneladas, das quais 5 milhões de toneladas no mercado interno, 4% acima do registrado em 2011.
Com 14 unidades produtoras no Brasil e 46 em outros países, a Gerdau considera positivas as perspectivas globais para o setor em 2013. Os países em que a empresa atua já apontam melhora na demanda e as expectativas do WorldSteel Association indicam crescimento de 3% no consumo mundial neste ano, para 1,45 bilhão de toneladas, liderado pelos países emergentes. A grande preocupação é quanto ao excesso de capacidade instalada no mundo. Excetuando o segmento de aços especiais, o desempenho da Gerdau no país, em 2012, se destacou entre as regiões em que atua, com aumento de 12% da receita líquida e de 5% no volume de vendas, para 5,3 milhões de toneladas.
Por Gleise de Castro | Para o Valor, de São Paulo
Valor Econômico

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