LEGISLAÇÃO

quarta-feira, 30 de outubro de 2013

PORTO DO RIO



USUÁRIOS TEMEM CRISE NO PORTO DO RIO


De Sérgio Motta *
A prefeitura do Rio tem obrigação de modernizar a cidade, pois o cenário municipal é absolutamente preocupante. A região não tem o ambiente empresarial encontrado em São Paulo, mas, diante da alavancagem das indústrias do petróleo e naval e ante eventos como Copa do Mundo e Olimpíadas, tornou-se necessário resolver problemas, como a criação de novas áreas para construção, melhoria no transporte e opções na habitação. De certa forma, o projeto Porto Maravilha responde a tudo. Suas torres – um das quais poderá ser incorporada por Donald Trump – tende a reduzir os astronômicos – e artificiais – preços de escritórios. Ao mesmo tempo em que serão implodidos velhos armazéns inservíveis, o Centro ganhará novas vias de locomoção e serão criados espaços de moradia – para gente que não mais precisará se deslocar para áreas distantes dos locais de trabalho. Em tese, portanto, o projeto é excepcional.
Um problema, no entanto, surgiu recentemente. É que, na área do porto, deu-se mais atenção a instalar centros culturais, restaurantes e até um museu – em cidade que conta com os mais importantes museus do país, quase todos sub ou mal utilizados e explorados – sem se atentar para os problemas operacionais. Como dizem os economistas, o core business do porto – sua razão de ser, que são as atividades portuárias – seriam afetados em virtude do fechamento de diversos portões. André de Seixas, que coordena o site Usuários do Porto do Rio, revela que as dificuldades poderão “inviabilizar” – termo usado por ele – o centenário ponto de escoamento e recebimento de cargas de uma área que atinge Goiás e Minas Gerais.
Seixas critica o fechamento do portão 24 e consequente transferência do movimento de caminhões para o bairro do Caju, onde o rejuvenescimento do antigo estaleiro Ishibrás – hoje Inhaúma – atrai quase 10 mil pessoas por dia, com intenso movimento de equipamentos pesados. Em especial, será afetado o recebimento de papel para jornais e revistas, até de outros estados. Esclarece Seixas que cada navio com bobinas de papel leva três dias para ser descarregado e que a operação funciona como um relógio: forma-se uma fila de caminhões e a descarga é feita em alguns minutos, o que, por um lado, atrai caminhões, mas evita o gasto com armazenamento da carga. Garante Seixas que o bairro do Caju e os portões ali instalados não têm condições de receber todo o fluxo de veículos do portão 24, seja pela quantidade, como ainda pelas características dos veículos.
Além da questão específica do papel de imprensa, deve-se destacar que os dois terminais de contêineres – Libra e Multiterminais – prometem investir R$ 1 bilhão a curto prazo; certamente, só o farão se houver possibilidade de retorno. O movimento do porto mantém dezenas de milhares de empregos diretos e enorme volume de serviços correlatos. E, por último e não menos importante, deve-se lembrar que o porto do Rio gera bilhões de ICMS para os cofres fluminenses, pois toda carga importada, mesmo que para outro estado, significa receita para o Palácio Guanabara. Portanto, ainda há tempo para que o projeto Porto Maravilha sofra pequenos ajustes, de modo a não acabar com uma verdadeira galinha dos ovos de ouro, que é o Porto do Rio.

* Colunista do jornal MONITOR MERCANTIL

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