LEGISLAÇÃO

terça-feira, 8 de abril de 2014

Vi, ouvi e não gostei


Vi, ouvi e não gostei

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É a seguradora que tem de cuidar das instalações de segurança de um terminal? É o governo que tem de planejar a rentabilidade de outro terminal?

As perguntas se explicam por dois fatos observados nas últimas semanas por este jornalista, em circunstâncias diferentes, envolvendo empresas também diferentes. Os nomes não importam neste momento, embora o leitor mais atento talvez perceba quem são os personagens. A questão é o que se deduz da soma dessas observações.

O primeiro caso é de um terminal portuário, que já foi vitimado por vários incêndios em passado bem recente. A empresa tomou algumas providências para provar que está prevenindo novos acidentes, mas uma análise um pouco mais atenta parece indicar, que tais providências estão "furadas", pois não assentam num plano eficaz de prevenção: a ideia que fica é que as medidas se destinam apenas a cumprir cláusulas dos contratos de seguros, impostas por seguradoras sem vontade de bancar novo prejuízo. É papel de uma seguradora ensinar a empresa a proteger seu patrimônio?

Os equipamentos são comprados apenas para se dizer que o foram, mas podem ficar inoperantes por não integrarem um sistema de real prevenção contra incêndios. Por exemplo, comprou-se mangueiras anti-incêndio, mas não há garantia de que haverá água para abastecê-las, pois o reservatório não é exclusivo para o atendimento das emergências. Aumentou-se o efetivo de segurança, mas falta treinamento e conscientização para que as normas sejam cumpridas. O controle é maior, mas seria bom que bombeiros dessem uma conferida se as planilhas recheadas de dados significam mesmo maior segurança. Basta dizer que não consta ainda a presença de sensores de calor e sistemas antichama nas esteiras entre os armazéns. Quando tudo virar cinzas de novo, faz-se outro daqueles intermináveis inquéritos, o seguro (embutido no custo) paga o prejuízo e a vida continua...

Imagem: http://blog.sucessoclub.com.br/

Pode-se planejar por vários caminhos. Mas o efeito de apostar em bons profissionais é direto

O segundo caso é o de uma empresa que apresentou seus planos de expansão a uma prefeitura. Dava dó, ouvir a explanação. O novo terminal ficaria em área inadequada em termos urbanos, em termos logísticos e até em termos de normas legais. O grupo empresarial foi convidado a voltar em outro dia, com um projeto melhor, que considere as tendências de mudança nos acessos ao porto – que os apressados planejadores ignoraram -, as normas para a abertura de acessos a rodovias – que eles também deixaram de lado -, e a própria rentabilidade do terminal, que ficaria comprometida com a série de restrições de uso. Foi preciso que técnicos e engenheiros da prefeitura abrissem os olhos do empresário e sua equipe para todos esses problemas conceituais. É papel de uma prefeitura ensinar a empresa a ganhar dinheiro?

Ao longo das últimas décadas, vi outros exemplos de erros, em que bastava apenas um pouco de raciocínio e de pesquisa, e até de boa vontade – para se evitar prejuízos imensos. Que são raros os que apostam na melhoria de seus recursos humanos, não é novidade. Mas daí a acreditar que o próprio poderio das empresas fará desaparecer os prejuízos causados por seus erros de planejamento, por suas omissões, pela falta de pesquisas prévias, é uma aposta alta, mesmo para elas.

O desleixo, a falta de cuidado, costumam trazer consequências graves, geralmente muito maiores que o desleixado poderia imaginar. Algumas empresas podem sair com o nome queimado de tais episódios. Outras podem se atolar nos investimentos errados. Que o diga o especialista do IPEA que trocou os gráficos nas pesquisas sobre estupros no Brasil. Daqui a algumas décadas, ainda lembraremos disso.

http://portogente.com.br/colunistas/carlos-pimentel/vi-ouvi-e-nao-gostei-81535

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